NTN-B - Como proteger seu dinheiro da inflação, e um breve relato histórico econômico da Roma antiga
Por Rafael Almeida, CFP®
Olá, prezado leitor, é um prazer estar contigo novamente. Neste artigo irei dissertar sobre a necessidade de dispor parte dos investimentos ancorado a índices de preços e uma lição muito importante que a história já nos deixou, por meio da administração dos antigos imperadores romanos.
A princípio, a razão macro é simples do porquê é necessário ter parte dos recursos atrelados a índices de preços. Imagine um investidor que teve rendimento na sua carteira de 12% no ano, isso não quer dizer que ele obteve acréscimo patrimonial ou tenha ficado mais rico; simplesmente porque juro nominal é diferente de juro real. O investidor que teve 1% de juro real no ano pode ter tido acréscimo patrimonial maior do que aquele que teve 12% de juro nominal, pois o juro real considera o desconto da inflação do rendimento obtido, e o juro nominal não faz o desconto da inflação, razão pela qual, um rendimento 12% não significa muito se não souber quanto foi a inflação no mesmo período.
O Banco Central do Brasil descreve inflação como “o aumento dos preços de bens e serviços, que implica na diminuição do poder de compra da moeda”. Nossos pais lembram bem de como foi viver no período da hiperinflação brasileira, antes da instauração do plano real em 1994, no governo Itamar Franco. Nesse período, a inflação média chegava mais de 46% ao mês, e alguns itens básicos chagavam quase a dobrar de preço de um mês para o outro.
Na Roma antiga, o imperador Nero (54-68 d.C.) foi o primeiro governante a depreciar o padrão monetário de Roma, que tinha sido estabelecido pelo primeiro imperador, Augustos (27 a.C – 14 d.C). Nero iniciou a depreciação do denário, diminuindo o teor de prata da moeda. Assim, com a mesma quantidade de prata conseguia cunhar mais moedas, misturando proporção menor de prata com outros metais menos valiosos. Esta ação tinha o intuído de financiar o império, aumentando a base monetária, mas, gerando inflação. Outros imperados, após Nero, da mesma maneira, continuaram a depreciar o denário, reduzindo cada vez mais a quantidade de prata na moeda, para financiar constantes guerras e aumentos contínuos de gastos.
Dado momento, soldados passaram a exigir seus pagamentos em ouro ou mercadorias, pois o denário, a cada depreciação, era trocado por menos quantidade de produtos, alimentos e bens.
Em 301 d.C, foi instaurado um plano chamado Édito Máximo, por Diocleciano, que ordenava o congelamento de preços dos grãos, carnes, ovos, roupas, bens. Quem descumprisse a ordem e vendesse os produtos fora do preço pré-estabelecido era condenado a pena de morte. Não demorou muito e os comerciantes começaram a tirar seus produtos do comércio, pois não conseguiam mais vende-los por preços justos, resultado, escassez.
Após essas breves considerações supra escritos, acredito que já tenha entendido a importância de conhecer ferramentas que possam proteger o dinheiro da inflação. Pois bem, a partir de agora vou explicar a Nota do Tesouro Nacional (NTN-B), mais conhecido como Tesouro IPCA.
O Tesouro IPCA é um título de renda fixa emitido pelo Tesouro Nacional do Governo Federal, para financiar os gastos da União. Esse título tem rendimento híbrido, inflação (IPCA) mais taxa pré-fixada. Essa remuneração híbrida, ancorada ao índice de inflação oficial do Brasil, pode te proteger, relativamente, da inflação, conservando poder de compra, e obtendo acréscimo patrimonial, através da taxa prefixada do título, ou como chamamos, do juro real do título.
É importante saber que não é toda situação em que o investidor conseguirá, através desse instrumento, conservar plenamente o poder de compra, pois cada indivíduo tem hábitos diferentes de consumo, não havendo um índice de inflação personalizado. E, também, dependendo da dimensão da inflação, no momento do resgate, o imposto de renda pode consumir o juro real obtido, numa situação extrema de inflação galopante.
Existe um índice de renda fixa chamado IMA-B, que tem algumas ramificações; esse índice é constituído por NTN-Bs, ou Tesouro IPCA, de vários vencimentos desde 2022 até 2055 (hoje 24/05/2021).
Abaixo, apresento um comparativo de rendimento absoluto, desde 09/2003 até 05/2021, entre o IMA-B, versus outros índices importantes e famosos da indústria:
Percebe-se que a diferença de retorno é enorme! Comparei com o dólar também, mas não chegou nem perto. Até pegando esse gancho sobre dólar, investir, estar exposto em tesouro IPCA, de certa forma, também é uma proteção no longo prazo contra a alta do dólar, e hoje, na data que escrevo este material, saímos da teoria e estamos sentindo no bolso como a depreciação do real, alta do dólar, pressiona os preços dos produtos, irei explicar mais sobre isso em outro artigo, para esse não ficar muito extenso.
Diferente de um título prefixado, o Tesouro IPCA, por ter esse rendimento híbrido, indexado parte a inflação, o Governo não consegue pagar essa dívida simplesmente aumentando a base monetária, como na história, nos parágrafos acima, dos imperadores romanos, que aumentavam seus gastos para financiar o império e guerras, e pagavam as dívidas emitindo mais moeda, gerando inflação.
Esse artigo tem o intuído de educar os interessados a cerca desses assuntos, de extrema relevância, principalmente nos dias de hoje, em que as dívidas dos países estão em níveis elevadíssimos, nunca visto antes da história, e em alguns casos já passa de 200% do PIB em algumas nações. Mas, também, não é uma recomendação para colocar todo seu dinheiro em NTN-Bs, pois o gráfico acima é de um período longo, fazendo análise em períodos mais curtos verá que esse tipo de investimento tem bastante oscilação, o investidor terá exatamente o retorno contratado se levar o título até o vencimento, para quem é experiente na gestão de renda fixa, consegue operar e extrair bons retornos sem levar o título a vencimento, operando as flutuações das taxas em diferentes vencimentos.
Por Rafael Almeida, CFP®
Sobre o autor:
Graduado em administração, pós graduando produtos financeiros e gestão de riscos. Atuou como AAI junto ao grupo XP Inc., Especialista de Investimentos no Itaú Personnalité, e atualmente especialista de investimentos no Bradesco Prime.
É Planejador Financeiro Pessoal certificado pela Planejar (CFP®) e Especialista em Investimentos certificado pela ANBIMA, CEA.
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