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A Poupança e o Status Quo


No último mês de agosto a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) divulgou uma pesquisa intitulada “Raio-x do investidor brasileiro”. Nessa pesquisa conseguimos observar como o brasileiro está se comportando em relação a seus investimentos. São vários os dados abordados, mas o que mais me chamou a atenção foi que “89% dos brasileiros investem em Caderneta de Poupança”.

“Preferência nacional, a poupança é o principal destino das economias dos investidores brasileiros. O perfil predominante é daqueles com mais de 25 anos, maior escolaridade, renda superior a dois salários e pertencentes às regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste (39%).”

Claro que isso nos leva há alguns questionamentos, como por exemplo, do motivo que leva a maior parte da população (com maior escolaridade, como é a predominância) a investir em algo que tem um dos piores retornos do mercado.

São várias as possíveis respostas para essa questão, nesse artigo vou ficar com uma das possibilidades que é conhecida como Viés Comportamental do Status Quo.

Antes de explicar o que isso significa, vou mostrar o motivo pelo qual falei (na verdade escrevi) que a poupança tem um dos piores retornos do mercado.

  • O que é Caderneta de Poupança?

A Caderneta de Poupança Tradicional é uma das formas da Instituição Financeira (a rigor, instituições que compõem o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo, que são: as Sociedades de Crédito Imobiliário, Bancos Múltiplos com carteiras de Crédito imobiliário, Associações de Poupança e Empréstimo e Caixas Econômicas) de captação de recursos.

As regras de captação atualmente estão definidas pela Resolução 3.549, de 27 de março de 2008, com suas posteriores alterações.

O principal destino dessas captações são operações de Financiamento Imobiliário (pelo regulamento atual, no mínimo 65% do que é captado obrigatoriamente é para essa finalidade). Isso significa que a Instituição que oferece conta poupança tradicional utilizará a maior parte das captações em uma área específica (Imobiliária).

  • Qual o rendimento da Caderneta de Poupança?

Para pessoas físicas ou jurídicas sem fins lucrativos a remuneração da poupança é isenta do IR – Imposto de Renda, e para pessoas jurídicas com fins lucrativos terá tal cobrança. Cada depósito assumirá um dia de “aniversário” como o dia que foi depositado os recursos, sendo que os depósitos feitos nos dias 29, 30 e 31 terão como dia de aniversário todo dia 1º.

O pagamento dos rendimentos será mensal (para pessoas físicas ou jurídicas sem fins lucrativos) ou trimestral (para pessoas jurídicas com fins lucrativos) e nas datas de aniversário.

Vimos, então, que para pessoas físicas a poupança oferece um rendimento isento de IR e seu rendimento será mensal na data de “aniversário”. Mas para haver “festa de aniversário” os recursos precisam ficar parados entre uma data e outra, pois se houver resgate antes dessa data você receberá o valor investido sem nenhum ganho, nem proporcional.

Vejamos então quanto é esse ganho:

A Caderneta de Poupança possui duas formas de remuneração: Regra Antiga e Regra Nova.

  • Regra Antiga: para os depósitos efetuados até o dia 03/05/2012 a remuneração, mensal ou trimestralmente conforme visto anteriormente, será de 0,5% ao mês + TR.

  • Regra Nova: para todos os recursos que são depositados na poupança após 03/05/2012 a remuneração, também mensal ou trimestralmente conforme visto anteriormente, será (de acordo com a MP 567, de 03/05/2012, depois convertida na Lei 12.703 de 07/08/2012) da seguinte forma:

  • Quando a taxa Selic for superior a 8,5% ao ano, a remuneração será igual à regra antiga: 0,5% ao mês + TR;

  • Quando a taxa Selic for igual ou menor que 8,5% ao ano, a remuneração será de 70% da taxa Selic Meta + TR, definida pelo BACEN, mensalizada ou trimestralizada, conforme o caso, vigente na data de início do período de rendimento (Circular 3.595, de 30/05/2012).

Vamos para um exemplo prático:

Imaginemos que uma pessoa física efetuou um depósito em sua caderneta de poupança no dia 10/08/2018 no valor de R$ 10.000,00. Considerando que nesse momento a taxa Selic Meta estava em 6,5% ao ano e a Taxa Referencial em 0,0% a.m., quanto que esse cliente receberá de remuneração no próximo aniversário?

Nesse caso encontramos quanto será 70% da taxa Selic Meta: 6,5% x 70% = 4,55% aa.

Depois, dessa taxa anual, calculamos a taxa equivalente ao mês: 4,55% aa = 0,3715% ao mês.

R$ 10.000 x 0,3715% = R$ 37,15

Logo, esse cliente terá um rendimento de R$ 37,15 nesse mês.

  • Status Quo

Mas com um rendimento tão baixo, porque a maioria das pessoas possuem investimentos na poupança?

Atualmente existe uma área em finanças conhecida como Finanças Comportamentais. Nela estudamos que a decisão do investidor não é 100% racional, sendo influenciada por diversos aspectos, como psicológicos por exemplo.

O viés comportamental (desvio de comportamento) conhecido por Status Quo é uma das possibilidades que pode explicar esse grande número de investidores mantendo seus recursos em algo que paga tão pouco.

O viés comportamental do Status Quo, de forma bem simples, seria a manutenção de um estado de inércia, no qual não mudamos e preferimos ficar do mesmo jeito. Assim como ir ao mercado e sempre comprar a mesma marca de detergente, sempre permanecer com o mesmo carro ou aplicar sempre no mesmo investimento são alguns exemplos desse viés comportamental.

Segundo um dos maiores estudiosos de finanças comportamentais, Daniel Kahneman (Prêmio Nobel de Economia), os indivíduos possuem uma forte tendência a manter o Status Quo, pois as desvantagens de sair da posição atual parecem muito maiores que as vantagens.

Por exemplo, um investidor que opta em manter seu fundo DI com taxa de administração alta apenas por não querer mudar, mesmo quando é demonstrado que um CDB renderá muito mais.

Manter o status quo, por si só, não é algo ruim. O que pode tornar prejudicial é não analisar as opções de mudança, ou analisando as opções, decidir por manter a posição mesmo que a probabilidade mostre que não é a melhor opção.

Seria essa uma hipótese para explicar o que está ocorrendo com muitos investidores que estão alocados em poupança. Vemos hoje na mídia muitas informações sobre investimentos com o mesmo nível de risco que a poupança, mas com melhor retorno, mas muitos optam em manter a posição atual simplesmente para não mexer nos investimentos.

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